03/07/2022

A guerra das toalhas

Há uma verdadeira guerra nas eleições do Brasil de 2022. Porém, não se trata de uma guerra de ideias relacionadas ao crescimento e solução dos problemas do país, mas uma guerra de quem vende mais toalhas.

Isso mesmo. Enquanto há uma guerra no mundo cujo palco é a Ucrânia, com reflexos globais que afetam desde a estabilidade global, o preço dos combustíveis e até ameaçam o mundo com uma forte escassez de alimentos, os candidatos líderes das pesquisas, Jair Bolsonaro e Lula, fogem de sabatinas e debates.

Em um país com milhões de desempregados e desalentados, com inflação nas alturas, uma sociedade que se digladia especialmente em redes sociais, com o país ostentando o menor PIB entre seus pares para 2022, a discussão entre os militantes de cada um desses candidatos se dá em torno de quem vende mais toalhas com a face estampada de seus ídolos.

Tudo isso sem deixar de mencionar a fantasia do conflito fascismo contra comunismo.

Jair Bolsonaro anda de moto e investe contra seus alvos preferidos, especialmente o TSE e ministros do STF, escolhendo agora também combater as pesquisas de intenção de votos. Lula, só debate em monólogo, não aceitando questionamentos de quem quer que seja. Debate para Lula, atualmente, é apenas um microfone na mão para destilar sandices, como falar dos “meninos” sequestradores de Abílio Diniz, enquanto seu candidato a vice Geraldo Alckmin entabula negociações com a velha política de sempre.

E pensar que em 2018, quando preso, Lula até acionava o Poder Judiciário para ir aos debates.

O quadro é desalentador para o Brasil, vivemos exclusivamente de agronegócio concentrador de renda, e quase não temos mais representatividade industrial e tecnológica. A imagem externa é a pior possível, e nos vendemos ao mundo como incapazes de cuidar do próprio território. E mais, nunca antes a Amazônia esteve tão ameaçada.

Neste momento, os EUA tentam manter a hegemonia em face da concorrência chinesa; a Rússia pretende redesenhar o mapa da Europa, reafirmando seu interesse em estreitar influência na América do Sul. Irã e Argentina pleiteiam entrar nos BRICS, ações que demonstram a ambição dos países em competir vigorosamente na economia e poder global.

Este breve relato serve apenas para alertar que as placas tectônicas da medição de forças e de ajustes globais está em forte movimento mesmo com a COVID, e deve se acentuar cada vez mais, especialmente até que ocorra um ajuste no conflito ucraniano.

O fato é que sempre haverá problemas sérios no mundo, não sendo possível terceirizar culpas. Um chefe de estado e de governo deve estar preparado para lidar com um ambiente em constante ebulição. Não haverá mar de rosas para qualquer pretendente ao cargo de presidente da república em nenhum momento atual ou futuro. Os incompetentes e omissos que se retirem.

Como se vê, há imensos desafios internos e externos. Sonegar sabatinas e debates mostra irresponsabilidade e desdém impar com a sociedade brasileira, sendo inadmissível que esse comportamento seja tolerado impunemente.

Se não quer debates, abra uma loja para vender toalhas.

Autor:

Cássio Faeddo

Publicado originalmente:

Ver o Fato

Link matéria original:

https://ver-o-fato.com.br/opiniao-a-guerra-das-toalhas/